Na década de 1850, o explorador escocês David Livingstone descreveu o que sentiu quando um leão o atacou: «Apanhou-me o ombro quando saltou, e ambos caímos ao chão... Rugindo horrivelmente ao meu ouvido, sacudiu-me como um cão sacode um rato. O choque... causou-me uma sensação de sonho em que não havia qualquer noção de dor ou terror.»
Esta reação de Livingstone não foi diferente das observadas, um século depois, nos soldados da II Guerra Mundial. Na frente de desembarque em Anzio, na Itália, os cirurgiões de campanha maravilhavam-se ante a coragem demonstrada pelos feridos graves, entre eles um jovem com o braço despedaçado que conversava calmamente com os médicos e não dava sinais de dor ou desânimo mental. A princípio, os médicos lançaram a teoria de que estes soldados pareciam alheios à dor pela simples razão de que se alegravam de estar vivos. Mas passados muitos anos — e muitas experiências científicas —, os especialistas da dor reconheceram que Livingstone e o jovem soldado de Anzio haviam experimentado aquilo a que agora se chama a analgia induzida pela tensão: o alívio das dores causado por tensões extremas.
A explicação para este fenómeno é que, em situações de tensão extrema, o cérebro produz por vezes os seus próprios narcóticos. Estes analgésicos são de dois tipos: as endorfinas e as encefalinas, ambas semelhantes à morfina — mas muito mais poderosas.